sábado, 20 de junho de 2009

Casamento de Licor

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Olá a todos vocês quem vêm visitar essa casinha, no meio do nada, para provar do cafezinho bom e para sentarem no tamborete e escutarem as histórias que só acontecem nesse cenário sertanejo.


Eu sou o Seu Libório, mas um visitante desse meu amigo dos sertões e, dando uma chegadinha por aqui nessa casinha, a prosa veio depressa. Moro num lugar chamado Cancela Marcada e, aqui e acolá, dou uma esticadinha até aqui, para ver como está esse meu amigo, o Sertanejo.

Sou contador de histórias e acho muito bom, quando consigo juntar meus amigos de conversa, para prosear. Também sou metido a versejador e gosto de criar umas poesiazinhas, para passar o tempo. Qualquer dia desses, faço uma poesia para mostrar a vocês.

Em Cancela Marcada, nos tempos pra trás, andaram passando muitos cangaceiros e isso gerou história que não acaba mais. Essa também é sobre cangaceiro. Uma história muito interessante, que quem me contou foi um amigo, que nos antigos, no tempo em que Lampião reinava, ele era um cangaceiro do seu bando.

Casamento de Licor
Meu amigo me contou que no dia 31 de julho, no ano de 1923, um sábado, iria acontecer o casamento de uma prima de Lampião, da cidade de Nazaré, Maria Licor Ferreira. Parece que Lampião tinha uma certa queda pela prima, e decidiu ir ao casamento, mesmo sem ser convidado. Naquele tempo, além da volante que perseguia os bandos de cangaceiros, também os Nazarenos viviam travando combates com Lampião e seu grupo. Com muita insistência do padre que iria realizar a cerimônia, Lampião e seu grupo resolvem a certa hora, deixar o lugar, mas como uma forma de vingar-se, arrebatou a sanfona da festa e advertiu:
_Hoje, aqui, não se dança.
Com a concertina do cantador na mão, o cangaceiro mais temido, Virgulino Lampião, levou também a alegria da festa, pois as pessoas foram privadas de um baile e tanto.
Meu amigo me conta que, de quando em quando, tanto ele quando outros bandidos, a mando de Lampião, iam no local do casamento, para certificarem-se de que as pessoas realmente não estavam dançando. Ele conta que, na manhã seguinte, Lampião convoca todo o grupo e decide voltar para a cidade. Ao entrarem em Nazaré, sendo questionados pelas pessoas do porquê de terem voltado, Lampião disse:
_Vim agora e não há quem me bote pra fora.
Mesmo sem saber, Lampião havia se livrado de duas emboscadas. Uma, no momento do casamento, em que os Nazarenos, ferrenhos perseguidores dos cangaceiros, planejavam assassiná-los, no momento em que os cangaceiros estivessem dançando no baile. Coisa que não aconteceu, pois Lampião, além de não ficar para o baile, também impediu que acontecesse a dança. Outra emboscada, que foi preparada pelos Nazarenos David Jurubeba, Pedro Gomes, e pelos irmãos Euclides, Manoel e Odilon Flor, também foi frustrada. Os Nazarenos haviam armado uma emboscada em um lugar que os cangaceiros iriam passar, mas chegaram atrasados e Lampião e seu bando já haviam passado.
Coisa interessante aconteceu depois, quando Lampião estava rumando para a capela de Nossa Senhora da Saúde. Um alvoroço de pessoas, na direção da estrada, denunciou a aproximação de uma volante. Os cangaceiros, vendo que a polícia chegava para guerrear, se entrincheiraram nas casas da cidade e arrocharam tiros contra os perseguidores. Meu amigo conta que, enquanto ele e os cangaceiros travavam a luta contra a polícia, eles debochavam demais de seus oponentes e o interessante é que, como se nada estivesse acontecendo, enquanto atiravam, os bandidos comiam dos pratos preparados para a festa do casamento, bebiam cerveja, tocavam sanfona e cantavam “Mulher Rendeira”. Imagina só que cena cômica...
No meio do combate entre a volante e os cangaceiros, os Nazarenos que tinham ido esperar a passagem do bando num local, ouvindo os tiros, perceberam que haviam chegado atrasados e foram, na tentativa de ajudarem a polícia. Chegaram logo atrás da volante e começaram a atirar contra os cangaceiros, mas essa ideia não foi muito boa não, pois a volante, sem saber de quem se tratava, começou a atirar contra os Nazarenos também.
Com muito custo, conseguiram avisar que se tratava de reforços e centraram os tiros contra os inimigos em comum, mas, como bom estrategista que era, Lampião, tendo decorridas duas horas de combate, decide bater em retirada. O grupo de cangaceiros, juntamente com seu líder, nada sofreu, naquele combate, mas o lado oposto caiu gente morta a dizer chega. Hoje, na história do cangaço, muita gente ainda guarda lembranças do dia do casamento inesquecível de Licor.


Seu Libório

7 comentários :

  1. Aquele café pretinho em copo de geléia é o acompanhante perfeito para essa 'aula' de história... êêê coisa boa!
    O bando de Lampião teve uma baita duma sorte!, se escafedeu sem um ferido que foi uma beleza. Já os Nazarenos...

    Hômi, contei pro meu pai a história d'A Rifa da Vaca, como ele riu... Ele é da terra, conforme já relatei, então é como voltar nos relatos que o povo fazia. É, a prosa do Rubervânio rompe fronteiras! hehe

    Abraços!

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  2. Fiz um update na postagem, esclarecendo a sua e a possível-futura dúvida de outros :)

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  3. Puxa vida, que texto bacana, viu! Uma aula de história e de cultura. O nosso Brasil é tão grande e é tão bom ver que cada região tem a sua identidade cultural unida pela língua portuguesa. Adorei o post!

    Abraço

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  4. Toda vez que venho por aqui tem uma história, um causo, um texto que me faz pensar no povo nordestino...
    Mas, o título do texto me fez lembrar mesmo foi do licor de capuccino que virei fã nesse São João rsrsrsrsrs
    Brincadeiras a parte, parabéns amigo Rubinho, como sempre, um aula carregada de cultura popular.

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  5. Meu querido, desculpe so ter passado no seu blog hoje. Obrigado pelos elogios tecidos. É recebendo críticas - independentemente de seu conteúdo - que dão aquele ânimo extra para se escrever. Quanto ao seu blog, é arretado pra peste! É de homens de letra como você que o nosso Nordeste tem carecido. Quem me dera sentir pulsdar nas veias este regionalismo que tem as suas histórias. Vou passar por várias vezes. Posso colocar o link do seu blog no meu? Ah, e eu ficaria honrado em ter o endereço do meu blog na sua lista de contemplados. Abraços.

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  6. Em pesquisa aos maravilhosos combates travados entre a políca e o bando de Virgulino Ferreira, encontrei a história de uma batalha chamada de "Casamento de Licor", a princípio pensei que não iria encontrar nenhum relato sobre o assunto, mas felizmente encontro além de narrado com os mínimos detalhes. Parabéns pelo resgate da história nordestina.

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  7. Caro amigo Sebastian,
    Obrigado pelas considerações e pela visitaa esse blog que é de todos.
    Essa história narrada aí, embora eu ter me remetido a informações verdadeiras, extraídas de minhas pesquisas de cangaço, eu quis fazê-la bem na linguagem de um sertanejo contando,como é uma das proposições desse BLOG.
    Então, há fatos verdadeiros nessa narrativa,mas também há um "causo" de um matuto que contou a história, dizendo que quem passou pra ele foi um cangaceiro, algo assim...

    Então,só para esclarecer, "O Casamento de Licor" é verdade, mas com muita ficção de um escritor de contos.

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