quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Futebol na roça

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Queridos e queridas...
Mais uma vez, venho eu aqui nessa casinha do meu amigo para lhes contar uma história muito interessante que aconteceu em Riacho das Éguas.

Parece até história de mentiroso. Só acreditei porque quem me contou, quem me relatou o acontecido, não era de inventar lorota nenhuma. Sertanejo sério, respeitador e honesto. Foi meu querido tio Getúlio, um cabra mais verdadeiro e de confiança que já vivei nos passados de minha cidadezinha.

Pois bem. Vamos aos relatos do meu finado tio, que me contou quando eu era um meninote ainda, e quem quiser que tire suas conclusões.

Tudo aconteceu na época dos tempos em que o povo de Riacho das Éguas estava inventando o Futebol. É isso mesmo. Quem inventou esse negócio de correr num campado atrás de um negócio redondo, chutando e metendo dentro de uma trave foi o povo da minha terra. Isso é uma história comprida e tem a ver com tirar mel de abelha, chutar inxú, correr de boi brabo e driblar bode pai-de-chiqueiro remetedor, mas vamos pra frente, que depois eu conto como é que o povo de Riacho das Éguas inventou esse esporte que hoje ganhou o mundo todo.

Naquele tempo, estavam promovendo um campeonato de futebol na roça, e quem desejasse, podia montar um time e entrar. O prêmio era uma dinheirama. Todo mundo queria entrar no campeonato. Time de homem, time de mulher, time de criança, time dos casados, time dos solteiros... Cada qual escalava sua seleção. Quem não tinha habilidade ou não gostava de chutar bola, automaticamente se transformava em torcida.
O juiz era o padre, o sacristão, bandeirinha e o prefeito, todo orgulhoso, era quem mexia no placar, escrevendo a quantidade de chutes que os jogadores acertavam dentro daqueles gravetos de pau que formavam as traves.

Devo lembrar que a palavra “GOL” só veio sair uns tempos pra cá, pra designar isso, porque na época, o nome era “METIDA”. Pois é... Eu sei que fica meio estranho, mas sei que antes, quando uma bola entrava naqueles espaços, o povo gritava:

“_ Eita! Mais uma METIDA pro nosso time...”

Ou então:

“_ Fulano METEU duas, contra os adversários...”


Nesse fuá, alguns bichos também se empolgaram pra jogar, mas ninguém queria animal no seu time. Não deu outra. Surgiu então o time animal. Um jumento, uma galinha e três galos, um cachorro rajado, um boi, dois bodes, um porco e um saruê foram escalados. O técnico que comandava a bicharada era o vaqueiro Seu Neca, que era também dono desses bichos todos. Na defesa foi escalado o pato.
O campeonato seguiu e os times iam se enfrentando e sempre, quando jogavam os jogadores do time animal, esses ia se destacando e vencendo. Venceram de goleada o time das mulheres. Dez a zero. Três gols, ou melhor, três metidas do jumento Celestino, quatro cabeçadas do boi Fubá, que era o capitão do time dos bichos, e um gol de cada galo.

Outro jogo que foi disputadíssimo foi o jogo dos bichos contra o time dos casados. Os bichos ganharam de um a zero. Gol do bode Erasmo. O juiz, o padre Arlindo, quis atribuir um pênalti para o time dos casados, mas ninguém conseguiu ver direito o porquê de um dos jogadores ter caído na área dos animais, perto do zagueiro que era o cachorro rajadinho por nome de Guarani. O homem segurava a região atingida, os culhões e gemia sem conseguir falar, mas como o juiz não havia visto, e também ficou com medo dos chifres afiados do boi e da cara enfezada do cachorro, acabou seguindo o jogo e foi assim que os animais ganharam mais uma partida.
A torcida ia à loucura, com as façanhas dos bichos jogadores. Foram ganhando os jogos e caminhavam para a vitória. Chegaram às finais. A disputa pelo primeiro lugar seria contra o time dos solteiros.

Foi quando, em comum acordo com alguns importantes comerciantes da cidade, vendo a gravidade das consequências de um time de animais ganhar um campeonato e desmoralizar os humanos, o prefeito decidiu dar um jeito na situação.

O time dos bichos não apareceu, na final do campeonato, pra jogar contra o time dos solteiros e esses ganharam por W.O. Os solteiros foram os campeões. O povo ficou sem entender o sumiço dos bichos.
Ao final do campeonato, em uma festança dada pela prefeitura para toda a comunidade, na ocasião da solenidade de entrega dos prêmios aos ganhadores, todo o povo de Riacho das Éguas se esbanjava com um banquete jamais visto, nas comemorações da cidade. Era churrasco, carne guisada, frango assado, pato cozido, jabá com farofa, buchada de bode, sarapatel, torresmo, linguiça, rabada, bisteca e ainda, aqui e acolá, umas tripas assadas com farinha circulavam pelo terreiro, enfiadas nuns espetinhos. Cachaça da boa também não faltou. Era comida até dizer chega. O forró comia no centro e o povo dançava, comia, dançava e voltava pra comer. A comunidade nem se lembrava mais do começo do campeonato, só lembrava e comemorava os feitos do time dos solteiros.
Saudações, meus amigos e minhas amigas.
Lula Pacífico

5 comentários :

  1. ENTÃO...EU NÃO TENHO BANNER DO MEU BLOG...NEM SEI FAZER...QUER ME DAR UM HELP?

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  2. Aposto que parte do banquete de comemoração derivava do time dos animais! rs
    Mas pô, ganhar de 10 dos time das mulheres é sacanagem...!

    Abraços!

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  3. Oh Rubinho , eu seria uma ingrata se eu não comentasse , este post com a foto das galinhas está muito bom , a narrativa então meu Deus ...
    Você é muito bom nisso viu rapaz...Cada dia , tem idéias inovadoras ...e estas conversas tendem a conquistar toda a Via Láctea...


    Ameii o post!!


    Abraços !


    ;)

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Eu me orgulho de ter achado esse cara num balcão de xerox! De lá pra cá tu só me deu alegria de ser teu amigo, cabra da peste. Isso é meio gay, esses elogios puxações de saco,mas é de corações, cumpadi.Eu gosto de tuas criações, invenções sertânicas, palavriados roceiros, imaginações férteis e outras artes. Essa história é outra boa danada. Ói, eu amei a foto dos galos, mas ainda assim preferiria aquelas animações com as personagens. Cadê eles? Ainda quero ver tu dando entrevista ao Jô...vou ligar pra ele e pedi uma horazinha aqui em Sampa,aviu? Vê se assa a carne de bode aí que no final do ano eu xego...quero ir nessas roças que tu cria nestes textos.Xero,cumpadi...Inté!

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