sábado, 13 de fevereiro de 2010

RESENHA - CONVERSAS DO SERTÃO (Jorge Leberg)

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Olá, meus queridos e queridas...

Gostaria de reproduzir aqui a resenha do livro "Conversas do Sertão" feita pelo jovem crítico literário pauloafonsino JORGE LEBERG...

Espero que deixe alguns de vocês curiosos para lerem o meu humilde livrinho cheio de engraçadices dos matutos sertanejos como eu...

Conversas do Sertão - Rubervânio Rubinho Lima
(por Jorge Leberg)
Este livro é de um dos mais célebres escritores da minha terrinha, Paulo Afonso, o notável e notório Rubervânio Rubinho Lima, que aliás conheço pessoalmente, embora não de longa data como gostaria (portanto, qualquer coisa, contato com o mesmo, posso intermediar).


Creio que é o único livro dele lançado até agora, possuindo mais dois em fase de conclusão, os quais são um romance (creio que seja o infanto-juvenil do qual ele me falou, espero que essa informação não seja confidencial) e outro de contos, que muito em breve serão publicados. Trata-se de uma reunião do que há de melhor em matéria de histórias e "causos" sertanejos da região, incluindo situações cômicas - algumas delas lembrando muito nosso mestre-mor Ariano Suassuna, o que não é de espantar em vista da matéria-prima dos dois escritores ser em partes praticamente a mesma, dos relatos colhidos de sertanejos a cantorias e cordel -, cangaceiros, Lampião, um jumento humanizado (remetendo um pouco à cadela Baleia, de Vidas Secas, apesar do processo elaborado por Graciliano não ser propriamente de humanização do bicho-personagem, e sim de personalização do mesmo aliado ao (re)conhecimento das peculiaridades intrínsecas à sua condição como animal), assombrações, criaturas folclóricas, o assombro e o fascínio diante de inovações tecnológicas na zona rural, etc.
São narrativas que atestam características tanto gerais quanto particulares do povo sertanejo, mais especificamente da região delimitada do norte baiano (onde nossa cidade se localiza) estendendo-se a lugares próximos dos estados de Sergipe, Pernambuco - sobretudo nos contos sobre Lampião e suas investidas, visto suas andanças com seu bando em tantos lugares do Nordeste, acentuando seu caráter polêmico e controverso, herói, anti-herói ou vilão? -, etc; aspectos como a esperteza, a astúcia e a ousadia necessárias para escapar de privações materiais e fugir de um destino que de outro modo seguiria como o prescrito pela pobreza, pelo coronelismo e pelo nosso Sol escaldante e impiedoso, a arte de contar histórias envolventes e/ou surreais não apenas como forma de passar o tempo e entreter visitantes e parentes, mas outrossim atestados de nossa identidade, história e diversificada formação cultural, construções memorialísticas estas que devem ser preservadas (justamente o trabalho que Rubinho exerce tão nobremente ao compilá-las). Estas peculiaridades nos distinguem e particularizam nosso povo como sertanejo e nossa terra como o Sertão nordestino, mas aliadas à nossa luta, às similaridades culturais e genealógicas com outros povos, e às tentativas de resistência e afirmação inerentes ao homem, nos unem a todos os outros como brasileiros e em suma espécie humana.


É perceptível que as pretensões de Rubinho são muito mais narrativas e/ou de registro, que propriamente estilísticas: a maioria dos contos está escrita segundo o falar sertanejo próprio, com seus erros - do ponto de vista da gramática oficial - e/ou pelo menos termos e provérbios particulares, próprios da região, mas não há investidas mais ousadas, seja na desconstrução de frases e palavras (a sintaxe, por exemplo, sempre é a convencional), seja na apreensão das particularidades linguísticas de cada localidade específica ou nos lances intuitivos. E poderia ser um livro mais abrangente, com mais contos e "causos". Perdoável, em vista do ótimo trabalho realizado pelo autor. Confesso que meus contos preferidos foram o primeiro #mimijeiderrir, "O Causo do Testamento do Ex-prefeito [corno]", e os que relatam assombrações, como "Três Histórias Arrepiantes" (a primeira história é mesmo de arrepiar, Rubinho aqui encontra o tom exato para instigar o imaginário e as apreensões do leitor, construindo uma atmosfera tensa e remetendo a sons sugestivos, como nas melhores do gênero, e por isto mesmo fiquei contrariado com o convencionalismo pálido das outras três histórias) e "Outra História do Meu Avô", essa com direito a lobisomem. Há três contos que registram a "intromissão" de uma TV movida a energia solar(!) em plena zona rural do tempo do ronca, cada um sob a perspectiva de um personagem distinto, explorando visões narrativas com diferenças sutis mas todas seduzidas pelo aparelho e cujas vidas se modificam sobremaneira através do mesmo, a ponto de deveras tornar-se mais divertida (o que não significa propriamente mais dinâmica, mas não quero me aprofundar aqui sobre a relação homem x tecnologia, não é o espaço apropriado).


Conversas do Sertão no Skoob e no site do autor.

Quote:[Em breve]

2 comentários :

  1. Valeu pela menção à minha crítica, hehe. Mas bem que você podia deixar um comentário no meu blog, inclusive com críticas à minha própria crítica, né? Abração!

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