segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

MELHORAR INCOMODA

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MELHORAR INCOMODA
Por: Gecildo Queiroz
Há algo que acontece muito nesta cidade: se não se interessar por estudo, cultura, arte, se não tiver vontade de evoluir, se não tiver planos reais, quase ninguém estranha. Agora, tente sair dessa lógica, comece a pensar, ter cuidado com o que fala, melhorar seu vocabulário, se torne mais informado, responsável e crítico que suas iniciativas serão limitadas a palavras do tipo: metido, pra frente, só quer ser, etc.
Nada incomoda mais um acomodado do que gente se “metendo” a sair da acomodação, olhando “pra frente” e “só querendo ser” mais. Não somos obrigados a crescer, mas por que será que o crescimento alheio incomoda? Simples: quem não sai do lugar detesta ver gente saindo. E reclamar é mais cômodo que reconhecer necessidade de mudança. Por isso prefere-se a depreciação e não o incentivo.
O que nos impede de perceber que só seremos melhores se avançarmos no conhecimento? Temos que viver os estágios da vida com o mínimo de interesse pelo aprendizado ou seremos pessoas mesquinhas desejando que os outros se igualem a nós. Desejando a multiplicação dos ignorantes pra que nossa ignorância não seja tão facilmente percebida.
Para desestimular o mérito, estimular o erro e o desconhecimento, incentivar a adulação e emperrar a vida dos outros não falta gente. Por isso temos poucos jovens querendo crescer, ler, pensar, lidar com defeitos e descobrir qualidades com inteligência. Jovens precisam saber que frustração é algo humano e não o fim do mundo. Precisam de alguém que lhes diga e mostre isso. Contudo, a maioria de nós, adultos, vive a lei da bajulação e do menor esforço. Como nossos jovens poderão ser diferentes?
O problema é que moramos nas desculpas e adoramos nossa velha e pouco produtiva esperança no outro. Estava numa fila de caixa eletrônico, outro dia, e me deparei com uma situação penosa. Uma jovem senhora e duas adolescentes esperavam que a funcionária do banco tirasse o dinheiro que precisavam. Santo Deus, será que nenhuma daquelas meninas podiam tentar aprender?
Contrariando as regras de segurança bancária, me dispus a auxiliar. A mãe disse: “Não, a gente não sabe mexer”. Eu insisti: “E suas meninas não querem tentar”? E ela foi incisiva: “Elas não sabem, deixe pra lá”. A mãe sequer incentivava suas garotas a aprender. Acreditem, quando sua vontade de evoluir esbarrar na massa de gente que prefere não sair do lugar, você será “estimulado” a continuar olhando para o chão, a aceitar o que lhe sobrar, mesmo sabendo que pode tentar outra coisa. Pelo menos tentar.
É difícil fazer remos novos, se livrar de hábitos inúteis, se dedicar a subir a corrente que insiste em nos arrastar para baixo. Não falo do impossível, falo da necessidade de transformação humana. Lenta, talvez, mas que precisa existir. E só cabe a cada um de nós, gente de olhos aparentemente sadios, enxergar melhor. Ou vamos continuar desejando que os outros também sejam cegos.
Gecildo Queiroz é escritor, professor (humorista nas horas vagas) e cronista.

2 comentários :

  1. Enquanto lia, alguns versinhos do Teatro Mágico me vieram em mente como:

    "Não acomodar com o que incomoda";
    "Não habita, se habitua";
    entre outros...

    Gostei do novo visual do blog :)
    Beijos.

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  2. Pena que este texto do Gecildo não foi tão polêmico quanto o outro, rs. Bem, tudo o que eu queria discutir a respeito de ambos os textos, aliás ótimos e que, além de demonstrar ousadia por cutucar a mediocridade, a mesquinhez e o moralismo (três "M"s, óia!) de tantos com vara curta, foram de quebra mal interpretados por muitos - sobretudo o primeiro -, já o encaminhei ao próprio autor tête-a-tête. Parabéns ao nosso grande Gecildo, uma das figuras de exceção nessa cidade por sempre se permitir a pensar e, consequentemente, a provocar!

    Quanto ao novo lay e às novas seções, aprovadíssimos. Teu blog tá bem melhor, mais porreta e danado de bom que antes!

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