domingo, 20 de fevereiro de 2011

Uma visita, uma satisfação, um pouco de história!

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Uma visita, uma satisfação, um pouco de história!

 Por: Ana Lucia G. de Souza

No último dia 17 de março de 2011, por volta das 9 horas da manhã no Distrito de Guanumby, município de Buíque, Pernambuco, num lugarejo simples e acolhedor, estivemos visitando o seu “Né” conhecido no mundo do cangaço por Candeeiro. Seu “Ne”, cujo nome de batismo é  Manoel Dantas Loiola, entrou para o cangaço no ano de 1936 (como ele mesmo me relatou ), em outras citações bibliográficas aparece no ano de 1937 como sua entrada, ficando portanto esses últimos anos neste movimento sofrendo implacáveis perseguições das volantes de todos os estados em que ele atuou como bandoleiro cujo desfecho final se deu no ano de 1938, na Grota  do Angico, Sergipe, pela volante comandada pelo tenente João Bezerra de Alagoas.

Sentado em seu sofá branco simples, vestindo camisa azul de mangas compridas, falando pausadamente devido à idade (96 anos), mas com uma memória inigualável e marcante, nos revelou um pouco de sua história no cangaço, até porque sua entrada se deu já nos últimos anos do fim deste movimento que durou por quase vinte anos neste sertão nordestino. Quando entrou no grupo, ganhou um lencinho vermelho com uma aliança para prender de Português, um cangaceiro alagoano. Fiquei bastante contente e privilegiada em conhecer de perto um dos últimos integrantes do bando que, em suas memórias, relembra: “nessa caatinga passei muita fome, sede, era polícia pra tudo quanto era canto nos perseguindo”. 

Num determinado dia em que preparavam uma refeição, tirava a água da batata do umbuzeiro (cujo sabor era de gosto horrível, dizia Candeeiro), colocava sal e tempero para cozinhar um quarto de um bode por baixo da terra dentro da batata rapada que virava uma panela improvisada. Quando foram comer o cozido, Lampião e os outros cangaceiros tiveram uma grande disenteria, inclusive Candeeiro, que não gostava de jeito nenhum do gosto daquela água. Ficaram poucos dias nesse determinado coito e candeeiro ouviu o “véi” dizer: “vamo sai daqui”! (Ele usava essa expressão, em nossa entrevista,  o “véi”, referindo-se a Lampião, por ser o mais velho do grupo, mas, claro por respeito, na época das andanças cangaceiras era o “capitão Lampião”.

No combate em Angico no dia 28 de Julho de 1938, saiu baleado no braço direito sendo tratado depois com remédios caseiros como pimenta malagueta e raspa de pau de aroeira e angico, todos encontrados na flora da caatinga em que eles conheciam muito bem. “Fizeram um pirão com a pimenta e as raspas de pau e botaram no ferimento e ai como queimava, ardia demais, era muito sofrimento”, dizia meu interlocutor, lembrando das mazelas do seu tempo de cangaceiro. “Era uma vida doida”, continuava.

Seu Manoel Loiola, seu “Né”, como é conhecido na vila onde mora até hoje, se dava muito bem com os outros cangaceiros, apesar de estar pouco tempo entre eles,quando conseguiu escapar sobrevivendo da morte em Angico, ainda andou um tempo no grupo de “Corisco” que ainda permanecia na ativa, mas resolveu se entregar juntamente com outros companheiros para não morrer nas mãos das volantes. “A gente se dava muito bem, mas não quis se entregar com a gente”. Em relação a este episódio, Candeeiro canta um verso que dizia: “Se entrega Corisco, eu não me entrego não, eu só me entrego com o parabellum na mão”, daí ele solta uma risada da rima cantada.


 Candeeiro, um dos últimos cangaceiros ainda vivos
  
Candeeiro resolveu se entregar, pois naquela vida já não dava mais. Corisco aprovou a sua decisão, até porque estava baleado e precisava se cuidar, porque os remédios caseiros não resolveriam o problema e sim um cuidado de médico e antibióticos na capital e foi assim que fez, foi a Salvador e lá se tratou. Num tom de desabafo ainda disse: “que futuro eu tive quando entrei? Tinha que acabar mesmo”.

Cangaceiro candeeiro, no período do cangaço

Seu Manoel ainda esteve na Região Norte trabalhando nos seringais na Amazônia, extraindo látex para fabricar borracha, mas sua terra natal não esqueceu e voltau. Casa-se com dona Lindinalva, tem filhos e sua esposa muito gentil, de bondade e inteligente em suas conversas nos revelando sobre a história do lugar que vive, com muita propriedade e os cuidados com o marido que é uma pessoa tão importante para a história do nordeste, palco deste movimento social que foi o cangaço, como também mediante as fotos, nos mostrou cada fase de sua vida, homenagens e reconhecimento por fazer parte da história e ter feito história. Homem lúcido, educado e gentil para com quem o procura, Candeeiro relatou um tantinho das suas aventuras. Obrigada, seu “Ne” por estar entre nós, contribuindo para enriquecer a  história dos sertanejos valentes e destemidos deste nordeste brasileiro e pela sede de conhecimento e aventura dos cangaceiros da pesquisa. 




Ana Lucia G. de Souza, escritora, historiadora e pesquisadora.

Um comentário :

  1. conheco seu ne tenho fotos com muito bom muito bom de mais...
    lucilio marinho alagoinha pe.

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