terça-feira, 1 de março de 2011

CARÁTER AINDA É CRITÉRIO?

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CARÁTER AINDA É CRITÉRIO? 

Por: Gecildo Queiroz

Estas palavras são usadas com muita facilidade: gente boa, gente fina, etc. Andamos tão descuidados diante do que é valioso que, ao medirmos nossa impressão em relação aos outros, quase nunca refletimos sobre o que é importante. Não admiramos as pessoas pelo que elas verdadeiramente são e sim pelo que elas demonstram, ou seja, pelo que aparentemente nos apresentam em alguns momentos.  
Depois, na convivência, mesmo que percebamos comportamentos desprezíveis nelas, nossa idéia primeira continua como se perdêssemos a capacidade de reavaliar ou como se isso não fosse necessário. Aceitamos certas posturas maldosas e até cruéis como se fossem características pessoais. Como se isso, sendo o jeito das pessoas, diminuísse a possível gravidade dos seus atos. Bom caráter, tristemente, não é mais visto como um critério primordial.
Às vezes ignoramos coisas graves, sujas e violentas praticadas por parceiros, conhecidos e até mesmo amigos. Ficamos excessivamente maleáveis e tolerantes com quem gostamos, quase nunca porque merecem, na maior parte das vezes eles sequer reconhecem seus erros. Nunca fizeram nada contra nós, é o que costumamos dizer. Até que suas péssimas ações nos atinjam. Quando a ofensa, o desrespeito, a desonestidade se volta para nós, começamos a ver o que já sabíamos. Mas antes, por incrível que pareça, concluímos que ignorar nos livraria dos riscos.  
Estamos nos tornado quase coniventes com toda a sujeira espalhada por aí. Convivemos com toda sorte de humilhação, tramóia e desonestidade bem perto de nós. Mas como essas coisas, mesmo praticadas por pessoas nossas, só atingem outros e não nos dizem respeito, não há porque se preocupar. O que nos faz pensar que seremos poupados sempre? Cobras, sendo venenosas, não reservam seu veneno para uma minoria, não são seletivas. 
Não devemos andar por aí condenando os atos alheios. Ninguém deve carregar o título de dono da decência e da perfeição. Se somos realmente amigos, continuaremos agindo como tal, mesmo quando os nossos cometerem erros. Contudo, solidariedade com a nossa condição de seres falhos e frágeis não significa elogio à estupidez, ao descaso e, finalmente, à decadência humana.  
"Somos seres humanos, errar faz parte de nós", gostamos de repetir. O curioso é que esquecemos que o acerto também é uma possibilidade da nossa espécie. Podemos ser íntegros. Não temos que julgar as pessoas como se fôssemos invulneráveis a falhas, mas banalizar os graves erros apenas porque eles podem acontecer com todo mundo é negar nossa capacidade de acertar, ser menos injusto, mais compreensivo e tornar essa vida, senão melhor, menos enlouquecedora e empobrecida.


Gecildo Queiroz

 

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