sábado, 28 de maio de 2011

Vaqueiro: Sinônimo de Tradição, Trabalho e Cultura

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Vaqueiro: Sinônimo de Tradição, Trabalho e Cultura


Por: Ana Lucia G. de Souza



De manhã bem cedinho, no romper da aurora, o vaqueiro se prepara para mais um dia de trabalho vestindo seu gibão, perneira, guarda peito, luvas, chapéu, alpercatas, toda essa indumentária genuinamente brasileira necessária ao seu ofício que é, para eles, o seu uniforme de trabalho, sem eles não tem como enfrentar a vegetação xerófita da caatinga braba, espinhosa que modela sua alma ao sertão cobrindo-se de couro para transformá-la.


Surgiram no século XVI antes mesmo das primeiras missões católicas no sertão em que, a Casa da Torre, de Garcia D’ Ávila, maior latifundiário das Américas, foi o ponto de partida para a invasão de terras indígenas, nascendo assim, os grandes latifúndios que, acostumado a gado a novos pastos, coube ao vaqueiro domar estes animais aos moldes sertanejos.

No Nordeste, desde a colonização, o gado sempre foi criado solto. A coragem e a habilidade dos vaqueiros eram indispensáveis para que se mantivesse o gado junto. O vaqueiro abre estradas e desbrava regiões, tangendo os bois e criando novos povoamentos.

A caatinga tem os seus perigos. Ela fere, arranha, aleija cega, corta, mata, mas um bom vaqueiro sabe do seu destino. Como nos antepassados ouvindo os berros, chocalhos e cantos dos pássaros, ele levanta cedo, sabe à hora de sair, mas não sabe a hora que chega, ou se chega, pois, muitas vezes quando sai para o mato, ficava o dia todo e às vezes até dormia, não voltava pra casa. “O vaqueiro quando entra , não sai, morre naquilo”, diz um velho vaqueiro. Na maioria das vezes segue a tradição de família. De geração em geração, esta profissão está sendo seguida como um destino selado. Os filhos seguem a profissão do pai, porque foi o ofício que aprenderam a conviver desde menino mediante a trajetória de sua vida.

O vaqueiro que se presa, além de uma boa indumentária de couro, tem que ter uma boa sela, punhal, esporas, ferrão que são objetos indispensáveis a estes homens do campo que , com o auxílio da arte produzida por artesãos, tem o poder de facilitar a labuta diária desses trabalhadores.

Um instrumento também indispensável ao trabalho árduo do vaqueiro é um ser que merece toda atenção, carinho e cuidados: o cavalo. Este animal, além de ser companheiro, tem que ser zelado, bem arreado, bonito, porque para o vaqueiro montar num cavalo mal equipado, com paramento rasgado, velho e antigo, significa uma falta de compromisso, de estética e um animal que está desprovido  física e esteticamente de beleza diante de todos os companheiros de profissão, é motivo de graça e constrangimento.

Aboio. Um sentimento. Um canto. Este elemento que acompanha o trabalho do vaqueiro é um item muito sério. Sua utilidade é ampla, extensa. Abóia-se para chamar o gado, louvar um grande feito, uma façanha de valente, a glória de um companheiro. Mas de tristeza também se abóia. Como a morte de um deles, por exemplo.

Canto típico do nordeste brasileiro, o aboio consiste em um canto sem palavras, cantadas por vaqueiros quando conduzem o gado pelas pastagens ou para o curral. É um canto vagaroso, no ritmo dos movimentos dos animais. É de origem Moura, trazida pelos escravos portugueses da Ilha da Madeira no Oceano Atlântico a sudoeste da Costa portuguesa. Os mouros são habitantes do Noroeste da África que são muçulmanos ou falam árabes.


O vaqueiro como parte da nossa cultura secular e regional, não pode ser um membro social esquecido e muito menos ser extinto. Pedagogicamente é um tema que pode ser trabalhado de forma interdisciplinar, com variadas formas e contextos. 


Ana Lucia G. de Souza é historiadora e pesquisadora

Nenhum comentário :

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...