sexta-feira, 22 de maio de 2009

Conversa pra boi dormir

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Olá, meus queridos e queridas que vieram, mais uma vez, visitar essa casinha do meu amigo Sertanejo Nordestino. Pois se abanquem que lá vai mais uma de minhas histórias de Riacho das Éguas.

Não, gente... O pior é que vocês não vão acreditar... Essa frase, aí, bem conhecida de todo mundo, esse velho dizer “Conversa pra boi dormir”, nasceu mesmo foi em Riacho das Éguas. Pois é verdade. Deixa eu aproveitar que vim aqui na casinha e que meu amigo já preparou nosso cafezinho cheiroso, e vamos começar logo essa prosa e deixar de arrudeio.
Há muito, mais muito, mais muito tempo mesmo atrás, na fazenda de um caboclo lá do meu lugar, aconteceu uma coisa que não é fácil de se crer. Eu mesmo só acredito porque meu velho avô, que Deus o tenha, foi quem me contou, e ele nunca foi de inventar conversa.

Foi assim... Repare só... O homem possuía um boi malhado. Mas não era um boizinho qualquer não. Esse boi era um bicho danado de sabido. Um bicho inteligente, mais inteligente do que muita gente que nos aparece hoje em dia. Esse boi era um rapaz sabido e cheio de manias.
Quando ainda era um bezerrinho, ele não saia do pé dos filhos e filhas do homem, dono do boi. Foi tanto que, em uma época, esse boi também começou a estudar, que nem gente. Pois foi. O dono da fazenda, querendo que os filhos aprendessem a ler e escrever, como eu também aprendi nas minhas estudadas de escola, contratou uma professora, pois a fazenda era bem afastada do vilarejo que eu moro agora. Era mais escondida do que o diabo, essa fazenda, e a professora foi dar aula lá.

Como na roça, tudo é improvisado, a sala de aula era pertinho do curral dos bois, onde o bezerro ficava. E os meninos, junto com a mestra do saber, se arrumavam embaixo de um umbuzeiro, coladinho na cerca.
Então, veja bem que presepada. Toda vez que tinha aula lá na roça, o danado do bezerro ficava por ali, escutando tudo. Tinha vez que prestava mais atenção do que os filhos do homem. Querendo ou não, o peste foi aprendendo e gostava tanto das conversas da professora, que fazia gosto. Foi crescendo e não perdeu uma aula.

A professora acostumou o danado a dormir ouvindo conversas de várias coisas no mundo. Pois foram as contas. O boi cresceu e não dormia, se alguém não lhe contasse uma história. Pedia pra qualquer um que chegava, para conversar com ele, contar histórias pra ele poder dormir. O homem, os filhos, as filhas, os vaqueiros do homem, as cozinheiras, todo mundo da roça se revezava pra poder conversar com o boi. Tinha o horário certinho e ficava aquele negócio: “Fulano, hoje é sua vez de conversar pra o boi dormir.” Ou então, quando eram chamados para alguma festa, forró, casamento, uns diziam: “Vixi Maria... Hoje não dá... Tem que ter a conversa pra o boi dormir...”. Ou mesmo, quando esse povo estava em algum lugar, conversando com alguém e a prosa era boa, acudiam: “Rapaz, isso é conversa pra o boi dormir!”
Não sei que fim levou esse boi, mas o ditado, esse ficou até hoje.

Um abraço bem apertado, meus amigos e minhas amigas que vieram ler essa história até aqui.
Continuem vindo aqui nessa casinha sertaneja pra ver as Conversas do Sertão...

Lula Pacífico.

2 comentários :

  1. Rubinho,
    gostei dos textos. Me remonta a pensar nos meus tios, parentes que vivem lá pelo sertão!
    Parabéns

    Legal a idéia da atualização sair por e-mail. prático e otimizado!

    grande abraço

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  2. KKKK Ótima explicação pra esse ditado. Rachei o bico de rir. O mais engraçado era o compromisso que o coitado do povo tinha com o boi. “Vixi Maria... Hoje não dá... Tem que ter a conversa pra o boi dormir...”

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