sexta-feira, 8 de julho de 2011

Patativa do Assaré - 9 anos sem o poeta passarinho

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No dia 8 de julho de 2002, em sua terrinha natal de Assaré, alçava seu último voo, agora para voar lá "inriba", no céu dos poetas e cantadores, o semi-analfabeto, mas genial poeta popular Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré deixava esse mundo...

Nove anos se passaram, mas a sua poesia, essa continua muito viva, e cada vez mais tem ganhado o mundo, com asas que tomam um vento até acadêmico, em que seus poemas são as penas, e o voo ganha mundo.

BIOGRAFIA

Antônio Gonçalves da Silva (Assaré CE, 1909 - idem 2002). Freqüentou a escola por apenas quatro meses, em 1921, mas desde então vem "lidando com as letras", como ele mesmo afirmou. Agricultor, em 1922 já atuava como versejador em festas, e a partir de 1925, quando comprou uma viola, deu início à atividade de compositor, cantor e improvisador. Em 1926 teve um poema publicado no Correio do Ceará, mas seu primeiro livro, Inspiração Nordestina, seria lançado trinta anos depois, em 1956. Em 1978 publicou o livro Cante Lá que Eu Canto Cá, e em 1979 iniciou, com Poemas e Canções, a gravação de uma série de discos, entre os quais se destacam Canto Nordestino (1989) e 88 Anos de Poesia (1997). Seu último livro, Cordéis-Patativa do Assaré , é de 1999. A poesia de Patativa, que verseja em redondilhas e decassílabos, traduz uma visão de mundo "cabocla", muitas vezes nostálgica e desapontada com as mudanças trazidas pela modernidade e pela vida urbana. Sua obra aborda os valores e os ideais dos camponeses do interior do Ceará, em poemas que tematizam da reforma agrária ao cotidiano dos sertanejos cearenses. 


O Poeta da Roça
Patativa do Assaré


Sou fio das mata, cantô da mão grosa
Trabaio na roça, de inverno e de estio
A minha chupana é tapada de barro
Só fumo cigarro de paia de mio.

Sou poeta das brenha, não faço o papé
De argum menestrê, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, à percura de amô.

Não tenho sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu seio o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.

Meu verso rastero, singelo e sem graça,
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo da roça e dos eito
E às vezes, recordando feliz mocidade,
Canto uma sodade que mora em meu peito.

2 comentários :

  1. Taí um poeta que preciso conhecer melhor. A peça trazida pelo SESC no semestre passado, "Concerto de Ispinho e Fulô", aliás, serviu de excelente mote para que eu viesse a relembrá-lo, e outros conhecê-lo ou se interessar ainda mais pelo danado. E Patativa é uma das provas de que ser acadêmico, intelectual e/ou tampouco alfabetizado (formalmente) não são pressupostos necessários ao ofício-arte da poesia - e belíssima poesia, no seu caso, ressalte-se. Abração!

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