sexta-feira, 12 de junho de 2009

O Namoro de Papai mais Mamãe

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O Namoro de Papai mais Mamãe

Queridos e queridas...
Hoje, dando chegadinha aqui pela casinha da roça do meu amigo, me lembrei de um acontecimento verdadeiro, que ocorreu lá em Riacho das Éguas. O namoro dos meus pais. Pense numa coisa diferente, era o namoro, naquele tempo...
Eu vou contar isso porque o meu amigo aqui, o Sertanejo, me falou que o povo diz que hoje é o dia dos namorados. Repara mesmo... E será que pra namorar é só um dia? Mas menino...Hum!
Me lembrei da conversa de minha mãe, me contando como é que foi o namoro com papai, aqui nesses matos.

Foi lá pelos tantos anos de trinta e tanto. Minha mãe era uma moça já com seus quinze. Era a mais velha das filhas de meu finado avô. O Véio teve filho que só a mulestia. Não tinha o que fazer, de noite, aí tome fazer filho e botar no mundo. Sei que minha mãe era a terceira, dos quinze filhos. Tinham dois rapazes, meus tios João e Antôin, que eram os mais velhos, minha mãe, e depois vinha uma carreira de filhos e filhas, descendo até chegar no décimo quinto, que era tio Zezinho. Olhe... Era João, Antôin, Dorinha, minha mãezinha, Donata, Maria das Dores, Maria Januária, Manézinho, Francisco, Toínha, Galego, Nequinho, Bosco, Terto, Zumira e Zezinho. Esse último, naqueles tempos, devia estar aí com um ano ou dois. Meu pai, primo legítimo de minha mãe, veio das bandas da Cotia, acho que já com as intenções de se achegar nela, pra arrumar namoro, e, como quem não quer nada, já tava hospedado lá na casinha de meu avô Zé Grande.
Apareceu com uma história de rever a família e a cantiga era outra. Foi não foi, foi não foi, quando meu avô dá por vista, percebe que a história era mais quinhentos. Meu pai já tava era trocando conversa com minha mãe na sombrinha dum umbuzeiro, do lado da casa.
_Oxente! Se arrespeite, seu cabra! Ta bulino cum minha fia, agora vai tê qui casá.

Naquele tempo, conversar de longe com uma moça solteira, nas sombras de um umbuzeiro, era uma violação tão grande no mundo, de pudor que o cabra tinha logo era que casar. Acontece que minha mãe já estava era cativada pelo rapaz... Aí era o casamento que eles queriam mesmo.

Meu pai, também, enfrentou seu tio, meu avô e já foi dizendo que havia se afeiçoado de mamãe e queria mesmo era casar com ela. Papai devia ter aí por volta de seus dezoito. Um sertanejo taludo que só, já acostumado à vida dura. O véio, meio cismado com a ideia de casar a filha, acabou permitindo o namorico, mas sabe como é namoro dos anos trinta no mato, né?
Meu pai aqui num tamborete, o véio meu avô no meio, outro lá longe com minha mãe e até o casório, o namoro corria disso a pior. O contato físico dos namorados era coisa rara. Pegar na mão? Vixi! Nem podia muito... E era meu avô com os ouvidos na conversa dos dois. Se a prosa caminhasse pra certos rumos, o véio carrancava logo. Pigarrava e olhava feio pra meu pai, que logo entendia a mensagem e mudava o rumo da conversa, pra agradar o sogro. Se o véio saísse pra beber água ou fosse no mato fazer as necessidades, o casal aproveitava pra tirar os atrasos do namoro e da prosa. Minha mãe conta que, pra pegar na mão de meu pai, demorou quase três meses de namoro.
As viagens de meu pai, lá pra Riacho das Éguas passaram a ser maiores. Se danava de lá de Cotia, no lombo dum jumento, numa carreira da gota, pra vencer ligeiro as 7 léguas de viagem, que era pra estar mais tempo no namoro. Minha mãe, toda jeitosa, sempre aparecia com uma costurinha, um lencinho, uma cirola que fazia pra meu pai. Papai também, aqui e acolá, chegava com um retalhozinho de chita, que buscava na feira da cidade, que era pra minha mãe costurar um vestidinho pra ela. O namoro ia caminhando. Na realidade, acho que meu pai namorava mais era com meu finado avô, porque o véio não saia do pé dos dois e vivia repreendendo os movimentos errados dos dois.

Só sei que nisso, marcaram logo o dia do casório. Se avexaram pra juntar os panos e pronto. No dia do casório, depois da cerimônia e dos festejos, da buchada e do forró, quase que os noivos não esperam o fim da festa, pra poderem pegar fogo. A lua de mel foi numa casinha de taipa, ao lado da casa de meu avô, os dois pegando fogo dentro de uma rede. Enfim o amor pôde ser saciado, os noivos juntaram a fome com a vontade de comer e haja chêro no cangote... Haja fungado e tome amor, e a rede não cabia tanto chamego, meu Deus...
Arranjaram logo uma casinha arrumadinha em Riacho das Éguas, muito trabalho na roça, na lida do gado, mas também, muito amor e carinho, entre meu pai e minha mãe.Tiveram umas belezuras de filhos, ajudaram a povoar o mundo e fizeram um cabra que nem eu, todo prosa, que é pra viver contando histórias pra quem quiser ouvir...


Um abraço, meu amigos e amigas.


Lula Pacífico

3 comentários :

  1. Eita que fiz uma viagem boa pro interior dos anos 30! Juro! Minha mãe já comentou comigo que namoro das antigas, ainda mais no interior, era assim mesmo. Aí fiquei a pensar como era lidar com a intimidade assim tão abruptamente, literalmente de uma hora pra outra, sem nem ter dado um beijo. As pobres das mulheres que de nada sabiam que o digam! Conta também minha mãe que uma colega, quando viu o marido desnudo na lua de mel, voltou pra casa se queixando à mãe que precisou tratar de explicar à filha suas obrigações de mulher recém-casada. E haja rede pra aguentar a descoberta!

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  2. Muito bom! Lembrei de uma história real de minha vó, que chegou até ser expulsa de casa pelos irmãos, porque a véia era retada nos tempos de moça, queria saber nada que tava nos anos 30 e alguma coisa não! rs.... Ainda bem que ela era retada e mudou-se lá da Terra do Descobrimento pra capital, e por isso estou aqui, comentando esse post do meu amigo Rubinho rsrs

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  3. Oxe, nesse tempo cada conquista era mega valorizada. Uma pegada na mão então... Mas em compensação, quando se casavam e conseguiam saciar todo esse desejo carnal repreendido, tome-lhe filho, tome-lhe filho...

    .:.

    Cara, tu é um genio em retratar esses falares sertanejos. Eu já falei isso e vou repetir: me divirto muito lendo esses seus contos sertanejos. Parabéns!

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